KATSUGEN KAI TAKEMUSU AIKIDO E YOGA PORTUGAL
Movimento Regenerador
Katsugen Kai, literalmente "Escola da Regeneração", é um método criado pelo Mestre Haruchika Noguchi, no Japão, e praticado desde a década dos anos 20 até aos nossos dias. Foi introduzido na Europa pelos Mestres Itsuo Tsuda (falecido) com base em Paris e Katsumi Mamine com base em Barcelona. O seu objectivo é conseguir a normalização do corpo, devolvendo-lhe a capacidade de reagir de modo são e natural a qualquer excitação anormal, faculdade que o homem moderno está perdendo de modo progressivo e crescente.
Haruchika Noguchi - Fundador
( 1912 - 1976 )
Itsuo Tsuda Sensei
( 1914 - 1984)
Katsumi Mamine Sensei
( 1944)
Para isso vale-se de uma técnica muito simples, se é que pode chamar-se técnica: Movimento Regenerador.
Pela prática regular do Movimento regenerador consegue-se:
1-Reflexos suficientemente desenvolvidos para fazer frente a qualquer anomalia de modo automático. Assim por exemplo, o estômago responderá com rapidez á ingestão de qualquer alimento estragado, enquanto que outras pessoas que comessem se envenenariam sem se aperceberem.
2-Uma respiração cada vez mais tranquila e profunda.
3-Um sono mais curto e profundo.
4-Uma recuperação rápida da fadiga.
5-Maior flexibilidade de todo o corpo, eliminando a rigidez e a tensão.
6-Grande capacidade de concentração e relaxação.
7-Necessidades precisas. O corpo dirá o que deve comer em cada momento; não é necessário perguntar aos especialistas.
8-Uma grande coordenação entre o pensamento e a acção. A torpeza dá lugar á habilidade, sem que a pessoa saiba como se operou a mudança.
9-Uma crescente serenidade de espírito.
O Movimento regenerador tem claros efeitos curativos, mas isto não é mais do que um aspecto secundário. Como noutras disciplinas espirituais, é preciso praticá-lo sem vontade de conseguir vantagens concretas dele. Deste modo as vantagens conseguem-se, mas aparecem "como fruta madura que cai". Portanto aqueles cuja única preocupação é curar uma doença, não são aceites. Só se aceita, como motivação " a volta á normalidade" em geral sem pressas, sem exigência alguma.
Como exemplo de algo que não pode obter-se pela vontade, temos o sono, que é, precisamente, uma relaxação da vontade. Portanto esforçar-se por dormir não é mais do que uma contradição que conduz a uma insónia crescente. Se não se é prisioneiro da palavra "sono", dorme-se quando se tem sono e não se dorme em caso contrário. O problema vem quando, não o tendo uma pessoa "preocupa-se" e esforça-se por dormir.
O Mestre Tsuda argumentava sempre que qualquer explicação falseia inevitavelmente o assunto. Não há outra maneira de compreender o Movimento a não ser praticando-o. Então sente-se e todas as explicações a nível mental sobram. É como um bocejo ou um espirro: o corpo executa-os e nenhuma explicação pode substituí-los.
Na descrição do Movimento Regenerador existem dois conceitos que chocam muito aqueles que deles ouvem falar pela primeira vez: o de fazer a prática sem a intervenção da vontade e o de respirar pelas mãos.
Suspensão do sistema voluntário - Durante o Movimento suspende-se momentaneamente o sistema voluntário: uma pessoa deixa-se ir, simplesmente. Quem faz o trabalho é a necessidade do nosso organismo, que normalmente permanece reprimida. Não se executa o Movimento; arranca por si mesmo. Esta ideia de suspender, ainda que só momentaneamente, o controle intelectual da nossa actividade, costuma assustar alguns, que pensam produzir-se desordem ou anarquia.
Na realidade não há nada de extraordinário ou de sobrenatural no Movimento Regenerador. Este não difere na natureza, do que o mundo conhece como respostas naturais do organismo: bocejos, espirros, calafrios, agitação durante o sono, etc. O Movimento tem por função activar estas respostas, numa perspectiva mais geral.
Respiração pelas mãos - É possível respirar pelas mãos? A dificuldade vem no que entendemos por "respirar". Tchuang-Tse, o grande filosofo chinês dizia, há dois mil e quinhentos anos: " o homem verdadeiro respira pelos seus calcanhares, enquanto que a gente comum respira pela garganta".
De todos os modos não é uma questão a discutir. Pede-se aos praticantes que façam como se fosse possível. Depois ao cabo de um tempo mais ou menos longo, acaba-se sentindo efectivamente sensações novas: Formigueiro, picadas, calor.
Quando se põe uma mão sensibilizada sobre o corpo do companheiro, (caso se esteja a praticar o movimento aos pares) e se expira através da mesma, este ultimo experimenta uma sensação que é diferente do simples calor físico. Esta sensação irradia depois que o contacto haja terminado. Pode-se inclusive fazer uma expiração á distância sem contacto directo.
Respostas - As respostas á prática do Movimento são muito pessoais e assim não admitem uma definição ou descrição uniforme: há tantas respostas como indivíduos. Ainda num mesmo indivíduo, o Movimento muda e evolui progressivamente. Cada região do corpo pode ser afectada diferentemente: o pescoço, os ombros, as costas, a pélvis, as pernas, etc. Desde as reacções tranquilas até ás violentas produz-se toda uma gama. Há quem, paradoxalmente, experimente o Movimento de uma maneira imóvel porque este, em vez de exteriorizar-se, trabalha interiormente. Há também quem reaja dormindo; neste caso o sono é muito diferente do sono ordinário.
Prof. Humberto Afonso fazendo expiração concentrada com uma praticante ( Estágio de Aikido e Katsugen com o Mestre Tsuda Madrid 1976 )
Programa de uma secção prática em grupo
1- Expiração sobre o plexo solar
2- Roda de activação, com inspiração sincronizada ao começar e ao terminar
3-Respiração pelas mãos, igualmente com inspiração sincronizada
4-Expiração concentrada: cada um é alternadamente dador e ou receptor. Activa-se o bulbo raquidiano e os segundos pontos da cabeça.
5- Movimento Regenerador
6- Inspiração profunda, seguida de expiração lenta para terminar.
7- Descanso: momento importante durante o qual os efeitos do movimento se harmonizam no organismo.
2 praticantes a fazer Yuki ( Estágio de Aikido e Katsugen com o Mestre Tsuda- Madrid 1976)
Três fases da evolução
No início, a normalização faz-se passando pelas três fases seguintes:
O primeiro período: Relaxação
Normalmente os músculos mudam e se relaxam. Sente-se um cansaço agradável e têm-se sono constantemente. O apetite pode diminuir algumas vezes: O descanso é meio sustento.
É essencial descansar cada vez que seja possível e não esforçar-se em comer se não se tem fome.
Ao final deste período pode-se experimentar uma sensação de frio, de agua que corre debaixo da pele. Segundo as pessoas, a reacção pode ser muito forte, dando lugar a calafrios.
Há que evitar expor-se ao frio, sobretudo depois de ter suado.
O segundo período: Hipersensibilidade
Sentem-se dores um pouco por todas as partes do corpo. Os traumatismos esquecidos de há muito tempo voltam á superfície. A insónia reinstala-se. Também haverá febre.
É o período do despertar do organismo, da sensibilidade.
Habitualmente a noção de febre significa repouso forçado na cama. Isto não é necessário ( salvo se o vosso organismo manifesta fortemente esta necessidade); Pode uma pessoa inclusive, dedicar-se ás suas actividades e sentir-se melhor que deitado.
É antes da febre, no período que se sentem calafrios ou sensação de frio, que se deve descansar e aquecer-se. Mas é sobretudo depois da febre, quando a temperatura baixa abaixo do valor normal, quando é imperativo descansar. Este período pode ser mais ou menos longo conforme o estado do organismo.
O Terceiro período: Evacuação
Todo o corpo se relaxa; a relaxação penetra em profundidade, libertando a humidade do corpo. O funcionamento da evacuação se intensifica, de forma que pode haver bem defecações muito coradas assim como diarreia abundante.
A evacuação pode fazer-se de outras formas: urina, suor, bocejos continuados e inclusive expulsão de corpos estranhos ( partículas metálicas, picos, tolerados até á ocasião pelo organismo).
Há que evitar resfriados durante estas reacções, assim como precipitar-se em seguida a uma actividade desenfreada quando se terminam. É melhor esperar que venha a vontade antes de actuar.
O Coração do Céu Puro
O Movimento é uma espécie de recolhimento na procura da harmonia interior e não a execução duma técnica.
Não há que pedir nada; há que esperar que a harmonia se revele por si mesma, de modo completamente natural. É preciso despojar-se de toda a procura de poderes, de eficácia, de cobiça, de luta ou de sedução.
É preciso que o movimento seja praticado com e no Coração do Céu Puro, parecido á relaxação que antecede imediatamente ao sono.
É difícil de fazer, direis, pois há sempre ideias ou imagens que surgem no espírito. É isso precisamente que é bom. Deixa-las surgir sem as seguir. É porque o espírito se acalma pelo que se vê melhor o que se passa dentro de nós mesmos.
O que se deve evitar é dar continuidade a uma especulação, fazer seguir uma ideia por outra.
E assim se propôs o seguinte principio: sem conhecimento, sem técnica, sem finalidade.
O desenvolvimento da respiração
O Movimento faz com que a respiração seja mais profunda, que penetre pouco a pouco através da barreira do diafragma até ao baixo ventre. Acabar-se-á por conseguir um assento estável no Hara (ventre) e uma mobilidade no Koshi ( parte de trás do Hara, formada pelas vértebras lombares e pélvis).
O que é necessário é evitar forçar os meios para alcançar este objectivo. Entregarmo-nos á sabedoria do corpo e do tempo e ás medidas que lhe são necessárias para realizar esta tarefa.
Dado que cada indivíduo tem um passado e necessidades diferentes dos outros, há um sem fim de descobertas pessoais que não podem ser formuladas com fins generalistas.
Quando se chega a ter o primeiro ponto do ventre (epigastrio) negativo, o segundo ponto neutro, e o terceiro ponto positivo, tem-se o Seitai, o corpo normalizado.
É então quando se deixará de viver em pontas de pés, prisioneiro de um medo inexpressível. É então somente quando se sentirá o verdadeiro amor do próximo, não o amor das belas palavras.
Terapeutica
Considerar o Movimento como uma terapeutica é tomar a sombra pela estátua. A normalização do corpo tem como consequência uma boa saúde, mas esta saúde não é sinónimo de ausência de doenças.
O organismo desenvolverá um leque mais amplo de adaptabilidade ás circunstâncias, a mudança do clima ou do meio ambiente, mas reagirá mais rapidamente que os demais á anomalia, quando se ultrapassa o limite de tolerância. Pode-se ser perturbado em condições em que os outros não sentem nada. Pode-se considerar esta perturbação como uma reacção sã do organismo, á vez que como um som de alarme e como o disparo do sistema de defesa orgânico.
O Despertar do Movimento
Confundiu-se constantemente, e erradamente , o Movimento com a " Libertação". O Movimento não necessita ser ruidoso. Á medida que o organismo se normaliza, o Movimento fica cada vez mais refinado e acaba por identificar-se aos movimentos da vida quotidiana. Cada um dos nossos gestos será então regenerador, e se manifestará espontaneamente em caso de necessidade, enquanto os movimentos de "Libertação" permanecem como um costume adquirido e não mudam de natureza.
Não Corpo - Não Mental
Quando o organismo funciona bem e em silêncio não se pensa nele. É o não-corpo. O corpo pode colocar-se em estado de alerta se a necessidade se apresenta. Se não acontece nada permanece livre, desembaraçado de toda a tensão.
O que pensa bem não tem aspecto de reflectir, pois o seu espírito está desembaraçado e livre. É o não-mental.
Aquele que descobrir o não-corpo e o não-mental transcende o espaço e o tempo, a vida e a morte. Para ele a morte física não é mais do que uma mudança de "habitat".
Baseado num artigo de Santos Roman, primeiro organizador e líder do Movimento regenerador em Madrid